Como dançar em Blumenau? 

Nos dias 4, 11, 18 e 25 de agosto de 2020, foram realizados os Encontros sobre Dança em Blumenau, eventos estes que contaram com a participação de profissionais e estudantes  envolvidas(os) com o panorama de múltiplas perspectivas e ações em dança que se  desenvolve na cidade atualmente.  

Com uma produção de dança bastante consolidada e realizada em diversos locais,  Blumenau nos traz uma primeira indagação: como dialogar em meio a tantos caminhos e  escolhas para a dança? Tendo em vista que a cidade é bastante conhecida por sua  pluralidade em dança e implantou o primeiro curso de Graduação em Dança do Estado de  Santa Catarina, foi ponto pacífico, durante os quatro Encontros, a necessidade de criar  conexões entre quem faz dança na cidade, bem como de que a cidade perceba a dança  também como área do conhecimento. Logo em seguida, podemos perguntar: além da  Universidade, como as diversas escolas de dança existentes na cidade podem fomentar  discussões e modos de criação que atentem a outras lógicas e encontrar outras maneiras de  elaborar danças, independentemente de se encaixarem em regulamentos de festivais  competitivos? Esta última pergunta já move algumas respostas, principalmente por parte de  alguns Coletivos que estão surgindo atualmente na cidade e das novas propostas  coreográficas desenvolvidas através do curso de Graduação em Dança da Universidade  Regional de Blumenau (Furb). É importante ressaltar que o curso da Furb, aos poucos,  também está construindo novas falas e novos olhares sobre a dança que já se faz na cidade. 

Em Blumenau, as(os) profissionais da dança atuam de maneira muito semelhante ao  restante do Estado de Santa Catarina, organizando-se e criando dança dentro dos seus  próprios núcleos de afinidades. Se o diálogo é pouco, como então pensar coletivamente no  fortalecimento de políticas públicas para o setor da dança? Entendendo o lugar político da  dança, urge criar maneiras de construir ações de dança que mobilizem a cidade e sejam  discutidas em coletivo. É preciso que as(os) agentes da dança na cidade pensem que a  mobilização política é compromisso de todas(os). 

No que diz respeito às políticas públicas para dança em Blumenau, algumas carências  foram apontadas ao longo dos quatro encontros, a saber: ações formativas propostas pelas  instituições públicas, principalmente na primeira infância, e espaços físicos adequados e  acessíveis para a construção/circulação de obras de dança. Os editais e prêmios públicos de  fomento realizados durante os últimos anos contaram com poucas inscrições de projetos em  dança, dado que aos poucos vem sendo modificado pelo crescente interesse, ainda que  tímido, se levarmos em consideração o tanto que está sendo produzido de dança na cidade.  

Quando se pensa na produção de dança em Blumenau, logo se constata a fragilidade  de uma cadeia produtiva que não possibilita remuneração adequada a profissionais  específicos e que atuam de forma colaborativa. Dado relevante não somente em Blumenau mas também em Santa Catarina de um modo geral, a figura de um(a) produtor(a) que atue  como gestor(a) de projetos ou dê conta das demandas de uma produção executiva, por  exemplo, é algo pouco visto. Como então valorizar as diversas áreas profissionais  responsáveis pelo bom andamento de um espetáculo de dança? Quais as possibilidades para  que uma cadeia produtiva em projetos de dança seja de fato construída?  

Em Blumenau, quando cria uma obra coreográfica, o(a) artista ou o(a) professor(a) de  dança acaba acumulando várias funções. Assim, a falta de recursos financeiros para delegar  atribuições aparece como resposta a esses questionamentos, bem como a ausência de uma  percepção mais aprofundada de que é preciso, aos poucos, ir construindo ferramentas para  remunerar outras(os) profissionais. Tendo em vista que “dança não se faz sozinha(o)”  (expressão falada repetidamente durante os Encontros), é preciso cada vez mais fortalecer o  coletivo e buscar parcerias de trabalho para diminuir a sobrecarga trazida pela acumulação  de funções por parte do(a) artista e/ou professor(a) de dança. 

Os quatro Encontros sobre Dança em Blumenau destacaram as importantes  trajetórias construídas por muitas pessoas que movimentaram/movimentam o cenário da  dança na cidade. Ao mesmo tempo, nas falas das(os) presentes, foi possível observar o  vislumbre, em um futuro próximo, de um cenário diversificado e oxigenado por iniciativas e  propostas vindas das(os) formandas(os) do Curso de Dança da Furb de 2021. Uma questão  pertinente seria pensar (sem gerar ansiedades) se estas(es) egressas(os) da graduação  permanecerão trabalhando em Blumenau ou vão buscar outras cidades para atuar com  dança. Mas esta pergunta, sem respostas ainda, de fato, é apenas uma curiosidade sobre  como se dará o impacto dessa nova leva de profissionais não apenas sobre o mercado de  trabalho mas também sobre a criação de novos moveres para/com a cidade. 

A dança em Blumenau caracteriza-se por modos de existência muito semelhantes aos  de outros contextos catarinenses, como: uma produção já potente, dentro das numerosas  escolas de dança; a falta de valorização da(o) profissional de dança; e a carência de  encontros e intercâmbios entre quem atua na área. Algumas perguntas também são  pertinentes: como promover espaços de discussão nos festivais e mostras que já acontecem  na cidade? Como ampliar o espaço da Universidade como um desdobramento pertencente à  cidade? 

Como dançar em Blumenau? Acolhendo as múltiplas possibilidades de pensar-fazer  dança que já estão sendo muito bem desenvolvidas e pensando no ato político das nossas  presenças, escolhas e ausências.

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