Como dançar em Florianópolis? 

Nos dias 5, 12, 19 e 26 de agosto de 2020, foram realizados os Encontros sobre Dança em Florianópolis, eventos estes que contaram com a participação de profissionais e estudantes envolvidas(os) com a dança na cidade. 

Florianópolis anuncia, como reiterado em diversos momentos durante os Encontros de Jaraguá do Sul e Blumenau, uma diversidade em dança considerável, em razão não somente de ser a capital do Estado de Santa Catarina – e, logo, de ter um trânsito significativo de pessoas, iniciativas e recursos – mas também pela existência de espaços para discussão e de produções em dança nas numerosas escolas de dança particulares e nas Universidades Públicas, mesmo que estas instituições não tenham nenhum curso de Graduação em Dança. 

A falta de uma Graduação em Dança na cidade reflete na necessidade de as(os) pesquisadoras(es) desenvolverem suas pesquisas em cursos de graduação e pós-graduação de áreas afins, como Artes Cênicas, Teatro e Educação, por exemplo. Se a dança, enquanto área de conhecimento acadêmico, ainda luta para garantir seu espaço, outra realidade marcante é o pouco investimento em programas e projetos públicos de formação continuada, principalmente nas escolas regulares. Em Florianópolis, o ensino da dança carece de subsídios públicos que contemplem a infância e a adolescência, bem como de espaços físicos apropriados para a realização das aulas de dança na rede pública de ensino, ambos problemas contemplados pelas falas das professoras de dança da cidade. 

O panorama de diálogo entre as(os) agentes da dança de Florianópolis é bastante semelhante ao de outras cidades catarinenses: consolida-se em nichos específicos de criação, seja no interior das escolas de dança, seja de forma isolada, em grupos e coletivos que atuam em vários locais da cidade. Como conectar todas(os) estas(es) trabalhadoras(as) e estudantes de dança? Esta pergunta interfere profundamente na maneira com que a sociedade civil se organiza e aponta uma outra indagação: como pensar em uma comunidade da dança enquanto agente corresponsável pela proposição de políticas públicas para o setor em âmbito municipal? Trata-se de uma questão que motivou outra reflexão, bastante discutida durante todos os Encontros do Projeto, a saber: como o poder coletivo das(os) agentes da dança poderia favorecer a execução e manutenção das políticas públicas do setor, visto que até mesmo as políticas vigentes estão sob o risco de extinção após a eventual ‘canetada’ de um(a) novo(a) gestor(a)? Não só em Florianópolis mas também em muitas outras cidades do Estado de Santa Catarina, é preciso se manter atenta(o)! A falta de políticas públicas específicas para a dança demonstra uma fragilidade e deságua na falta de continuidade de projetos e ações, assim como na ausência de manutenção dos trabalhos de tantos grupos e artistas, além de apontar a insegurança da dança como campo de trabalho, situação que muito se assemelha à de tantas outras cidades catarinenses. Em Florianópolis, a luta do setor da dança também abarca a importância da realização, com regularidade, de editais de fomento que contemplem, de maneira plural, a já potente produção que existe e resiste na cidade. 

Como então continuar dançando em Florianópolis? Como não se conformar com a falta de comprometimento para com as políticas públicas de dança? Como pensar em maneiras de subsidiar financeiramente os próprios trabalhos? Esta última pergunta também diz respeito à carência de produtoras(es) especializadas(os) em dança, sobretudo de profissionais comprometidas(os) com a captação de recursos por meio de leis de fomento municipais e federais e aptos a articular parcerias que alcancem outros modos de produção. 

Em Florianópolis, os eventos de dança, a exemplo dos festivais e das mostras para escolas de dança, não se revestem apenas de formatos reconhecidos e/ou competitivos; há também uma constante busca por outros modos de pensar e realizar ações de dança, através de propostas que percebam a multiplicidade desta arte e apontem caminhos diferentes dos circuitos competitivos vigentes em Santa Catarina. 

Com um público de dança bastante assíduo durante todo o ano, Florianópolis possibilita diferentes opções a quem deseja fruir da dança; desde propostas coreográficas vinculadas a escolas de dança, até obras construídas por grupos consolidados e/ou pelas parcerias entre artistas que atuam de forma independente. Dentre os grupos consolidados, não há como não citar o ‘Grupo Cena 11 Cia de Dança’ e sua reverberação em muitas propostas e em muitas(os) artistas. 

Florianópolis é um respiro para muita(os) estudantes e profissionais da dança residentes em Santa Catarina, que encontram na cidade um ambiente propício a absorver os caminhos plurais de pensar-fazer dança, seja aproveitando a programação de dança, muito mais constante do que em outras localidades catarinenses, seja atualizando seus estudos nas universidades, ou ainda participando dos Eventos de dança que movimentam a cidade. 

Como dançar em Florianópolis? Talvez a resposta possível neste momento seja esta: mantendo a esperança de que as instituições públicas ampliem as políticas públicas vigentes e valorizem as iniciativas das(do)s artistas, professoras(es) e produtoras(es) que já atuam na cidade.

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