Como dançar em Garopaba, Laguna e Tubarão?

Nos dias 10 e 17 de maio de 2022, foram realizados encontros online com a participação de profissionais e estudantes envolvidas/envolvidos em ações e projetos de dança desenvolvidos em Garopaba, Laguna e Tubarão, para conversar
sobre a produção em dança local.

Situadas na região sul do Estado de Santa Catarina, as três cidades, próximas geograficamente uma das outras, possuem modos distintos de observar e produzir dança, porém apontam para uma mesma constatação urgente observada na fala das/dos participantes dos encontros: a falta de recursos públicos destinados ao setor, que resulta num modo de fazer dança movido pela resistência, apesar da escassez.

Se aos poucos a cidade de Garopaba avança na criação e execução de políticas públicas para dança e no desenvolvimento da dança no Conselho Municipal de Cultura, o mesmo não se percebe em Laguna e Tubarão. Entendendo que políticas públicas são consolidadas a partir da luta coletiva de um setor da dança organizado e propositivo, e que fiscaliza a gestão pública na implantação e na continuidade de ações para a dança, o que se percebe é que, há um caminho ainda muito longo a ser trilhado pelas/pelos agentes da dança como o de colaborarem coletivamente.

Por falar em coletivo e pensando a dança como processo colaborativo de criação e produção, o que se destaca a partir das falas das/dos convidadas/convidados Agna Muller, Valéria Baldoino, Ana Olimpio, Rogério Ribeiro e Matheus Pipoka durante os dois encontros realizados é a falta de profissionais da dança atuantes na cidade de Laguna e, portanto, uma produção limitada a poucas escolas de dança que acabam pouco encontrando maneiras de dialogar; a falta de intercâmbios e trocas artísticas na cidade de Tubarão, indicando assim trabalhos e práticas de dança isoladas nas próprias escolas de dança; e, em contrapartida, a força da Atitude Cia de Dança de Garopaba em mobilizar, não somente quem faz
dança, mas toda a cidade de Garopaba.

Ao olhar essas três cidades, um ponto chama a atenção: a força das danças urbanas tanto nos coletivos e grupos de artistas quanto nas escolas de dança, algo que também foi observado na primeira edição do Projeto “Como dançar em Santa Catarina?” quando conversamos com agentes da dança de Criciúma, cidade situada também na região sul do estado catarinense. As danças urbanas ocupam os espaços públicos das cidades do estado, como o caso das ruas e praças em Garopaba, além das salas de aula e as programações dos poucos espaços físicos disponíveis para a dança, como teatros ou outros espaços culturais. A queixa da escassez de espaços físicos que atendam as demandas de produção de ações de dança também perpassa a fala de todas as pessoas durante os dois encontros sobre Garopaba, Laguna e Tubarão.

Com dois anos de teatros e espaços culturais fechados ou com restrições sanitárias devido a pandemia da Covid 19, o ano de 2022 marca a retomada gradativamente de ações de dança presenciais. Um dado foi constantemente lembrado pelas/pelos participantes: em 2022, o público de dança retornou significativamente, tanto na procura por aulas de dança nas escolas e nos projetos formativos quanto na presença em eventos como mostras e festivais de dança e apresentações de espetáculos.

Pelo que tudo indica, o público de Garopaba, Laguna e Tubarão vai bem…Não somente pela retomada das atividades presenciais, mas também, por outro lado, um outro público relevante: os usuários das redes. Com diversas ferramentas disponíveis atualmente, aplicativos como Instagram e TikTok aparecem como uma oportunidade de alcance de público. Como dito em uma das falas durante os encontros: é preciso ser visto! E, é isso que professoras/professores de dança vem também fazendo: buscando modos de serem vistos, para que seus trabalhos atinjam ou “engajem” (a palavra do momento) o maior número de pessoas – ora gravando trechos de aulas e coreografias próprias, ora participando de desafios de dança propostos porusuárias/usuários dos aplicativos. Ou seja, não podemos ignorar o fato de como a dança vem sendo elaborada nas redes sociais e seus desdobramentos no cotidiano, principalmente a partir do início do período pandêmico.

O período pandêmico marca também a importância dos editais da Lei Aldir Blanc que foram executados nestas três cidades em 2020 e 2021, garantindo, assim, principalmente a manutenção de espaços culturais e a execução de projetos de dança por meio de ações formativas e processos criativos de espetáculos e performances virtuais. Através desses editais, muitas/muitos artistas da dança desenvolveram pela primeira vez a escrita/elaboração e execução de um projeto cultural com recursos públicos. A figura de uma/um produtora/produtor que desempenha funções específicas para um bom andamento de um projeto de dança é praticamente inexistente nas três cidades, sendo função do próprio artista, ou do coletivo de artistas, arcar com todas as demandas e responsabilidades envolvidas num projeto.

Com uma produção de dança proposta pelos próprios artistas, grupos e escolas nas próprias cidades, Garopaba, Laguna e Tubarão, carece de circulação de espetáculos de dança de outros locais de Santa Catarina e do Brasil. As cidades pouco recebem outras propostas, pouco conseguem acessar trabalhos de outras/outros artistas residentes em outros lugares.

Como dançar em Garopaba, Laguna e Tubarão? Nos dois encontros realizados, observando não somente as falas do que já acontece de forma potente nas cidades, mas também observando os anseios futuros expostos pelas convidadas/convidados, é preciso, cada vez mais, estabelecer parcerias de criação e produção. É preciso mover juntos/juntas um coletivo que dança. É preciso mover uma cidade que dança!

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