Como dançar em Jaraguá do Sul? 

Nos dias 3, 10, 17 e 24 de agosto de 2020, foram realizados os Encontros sobre Dança em Jaraguá do Sul, evento este que contou com a participação de profissionais e estudantes  atuantes na cidade. Durante estes quatro encontros, conversamos e refletimos sobre diversos  caminhos para que a dança continue a ganhar ainda mais força. 

A primeira questão relevante que aparece em Jaraguá do Sul diz respeito à importância que se dá aos programas de formação em dança, tais como os projetos já  existentes e as iniciativas de instituições públicas que pensam na urgência do acesso de  crianças e adolescentes à dança. Questão presente em muitas falas durante os Encontros, ressaltou-se a importância de alinhar ideias e projetos formativos em dança através de  possíveis diálogos entre a Secretaria de Educação e a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer  da cidade. A dança, em Jaraguá do Sul, aparece de forma potente nos espaços ocupados  pelos programas das instituições públicas e se consolida fortemente através das diversas  escolas de dança vinculadas à iniciativa privada. Diante de um cenário de dança  aparentemente muito bem difundido enquanto formação na infância e na adolescência, como  então pensar a dança como área de conhecimento acadêmico e de atuação profissional?  

A falta de cursos de aperfeiçoamento para quem quiser se aprofundar e ter a dança  como caminho profissional é um dado importante e ressalta que a maioria dos profissionais  que atuam com dança na cidade necessita recorrer a outros cursos superiores, principalmente em Educação Física, ou realizar outras formações fora da cidade. Como então  a cidade pensa nas possibilidades futuras para que uma criança ou um adolescente continue  na dança? Parece ser uma pergunta pertinente, tendo em vista o cenário atual da cidade.  Pensar em como continuar dançando também aparece nas falas das pessoas que atuam  profissionalmente em projetos vinculados a instituições, cujas condições de trabalho, muitas  vezes, são marcadas pela insegurança, pela falta de garantias de continuidade e pela  exaustão de ter que pensar em estratégias de sobrevivência a cada troca de gestão. A  questão da continuidade ressalta que é preciso pensar em mecanismos que regulamentem e  mantenham não somente os projetos formativos mas também possíveis grupos e companhias profissionais na cidade.  

Seguindo a lógica do Estado de Santa Catarina – de festivais e mostras feitos para  escolas de dança –, a cidade também promove ações de dança através de eventos pontuais, que movimentam a cena local em alguns momentos durante o ano. Nota-se que muitas das  ações das instituições públicas da cidade se constroem a partir da necessidade de produzir  eventos como festivais e mostras de dança. As(os) agentes de dança da cidade veem nestes  eventos uma espécie de vitrine para os próprios trabalhos coreográficos, mas então como pensar em outros tipos de ação e de políticas públicas para a dança? Como alavancar  processos criativos com outras finalidades além das usuais?  

A urgência de criar modos de existir dançando que proponham outras oportunidades  coreográficas que não somente a participação em eventos já consolidados de dança e a  composição de espetáculos de final de ano em escolas foi uma questão recorrente em todos  os encontros. A falta de espetáculos que oportunizem outras reflexões chama a atenção para  mais um ponto relevante: a carência de mecanismos públicos de fomento, como editais e  prêmios. Nos últimos anos, a cidade teve uma queda significativa nas suas produções em  dança, fato relacionado à falta de apoio para que as(os) artistas e produtoras(es) pudessem  criar espetáculos e organizar ações formativas. Vale ressaltar que a figura do(a) produtor(a) especializado(a) em projetos de dança é praticamente ausente e pouco explorada na cidade;  sendo assim, a multiplicidade de tarefas envolvidas na criação e execução de uma ação de  dança é realizada integralmente pelas(os) próprias(os) professoras(es) das escolas de dança  da cidade. 

Timidamente, as produções em dança acontecem nos poucos espaços físicos  espalhados pelos bairros da cidade. A escassez de estruturas que possam ser utilizadas para  criação e consolidação de uma programação de dança durante o ano todo é algo relevante e  também bastante comentado, bem como o alto custo de locação dos teatros existentes. Com  uma programação de dança anual que ainda precisa ganhar fôlego, como formar um público  de dança para cidade? Em Jaraguá do Sul, o público de dança é composto, em sua maioria, por familiares das(os) alunas(os) das escolas de dança; como então ampliar o acesso à dança  de forma que contemple outros olhares além dos que já se conhecem?  

A partir dos relatos colhidos durante nossos encontros, é possível perceber que a  dança ainda luta para ganhar relevância na cidade, enfrentando problemas como a falta de  um(a) representante na cadeira específica de dança do Conselho Municipal de Políticas  Culturais (CMPC) até a carência de espaços para trocas de conhecimentos entre as(os) profissionais.  

Como dançar em Jaraguá do Sul? Com um cenário de dança composto por muitas(os) profissionais desejosas(os) por mudanças no pensar-fazer dança na cidade, Jaraguá do Sul  segue criando dança dentro das possibilidades de que dispõe no momento presente e  acolhendo toda a pluralidade da dança, principalmente em espaços formais e não formais de  ensino.

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