Como dançar em Joinville?

Nos dias 24 e 31 de maio de 2022 e 07 e 14 de junho de 2022, foram realizados encontros online para conversar sobre a dança feita em Joinville com convidadas/convidados da área e com a participação de profissionais e estudantes envolvidas/envolvidos em ações e projetos de dança desenvolvidos na cidade situada no norte do Estado de Santa Catarina. As pessoas convidados foram: Sheila Melatti, Elisiane Wiggers, Sergio Almeida, Iraci Seefeldt, Helena Uliano, Fernando Lima, Ira Dorsey e Maria Renara.

Com uma produção de dança fortemente realizada dentro dos espaços formativos, sendo eles escolas públicas regulares, escolas de dança particulares e cursos técnicos realizados em instituições públicas e uma instituição particular, Joinville nos indaga: como oportunizar uma carreira futura na dança para as/os estudantes que participam de processos formativos na cidade?

Se por um lado a cidade oportuniza diferentes formações em dança – principalmente na infância e adolescência – por outro lado, a falta de incentivos não garante um futuro profissional para quem quiser seguir carreira para além das escolas de dança, seja como docente em diferentes instituições, ou como gestora/gestora da própria escola. Quando falamos de formação em dança na cidade, é importante não somente ressaltar a falta de um curso superior de graduação em dança, bem como todos os desdobramentos poéticos e políticos decorrentes. A falta de entendimento da área da dança como área do conhecimento ronda não somente os discursos de quem faz dança na cidade e que gostaria de ter feito uma formação específica, mas sim afeta toda uma maneira de produzir dança na cidade.

Ao longo dos quatro encontros realizados, ficou visível a insatisfação das/dos participantes com a falta de cuidado das gestões públicas com a cultura, a qual resultou, principalmente, nas drásticas ações dos últimos anos – como as mudanças nos mecanismos de incentivos por meio de editais culturais públicos, as recentes problemáticas na execução dos editais vinculados a Lei Aldir Blanc (principalmente a edição em 2021), e a falta de continuidade de recursos para projetos formativos de dança. Como exemplo da falta de continuidade, foi mencionado o Projeto Dançando na Escola, que vinha resistindo ao longo dos anos, oportunizando aulas de dança no contraturno das escolas públicas regulares.

Resistência, palavra hit de sucesso dos agentes da dança em Joinville, é também uma palavra que aponta a maneira com que as/os professoras/professores de dança vem atuando, principalmente no período pandêmico da Covid-19, que trouxe desafios de propor aulas de dança online, e agora em 2022, com a retomada das ações presenciais, com os desafios de trabalhar com estudantes com outra experiência de corpo – um corpo acostumado com as telas e suas limitações. Resistência foi uma palavra lembrada durante todos os encontros, reflete um modo de criação e produção em dança baseado também na insistência. Insistência flagrada desde produtoras/produtores realizando eventos e ações com poucos recursos disponíveis, proprietárias/proprietários de escolas de dança encontrando mecanismos para sobreviver à artistas buscando reconhecimento em seus trabalhos autorais.

Joinville, cidade da dança? A existência de duas instituições que operam a lógica da cidade – o Festival de Dança de Joinville e a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil – resulta também numa próxima pergunta: Joinville, é cidade da dança para quem? A partir das falas das/dos participantes é unânime a falta de um olhar cuidadoso, apontando que há falta de recursos financeiros para outras iniciativas que não sejam atreladas a estas duas instituições. Se, por um lado o título de Cidade da Dança projeta a cidade, quem produz dança fora dos circuitos reconhecidos das instituições grita para também ser valorizado.

Nos últimos anos, apesar do período pandêmico, a cidade vem estabelecendo aos poucos uma programação de dança mais intensa durante todo o ano, eventos de dança vem surgindo com atividades formativas (principalmente aproveitando o período do Festival de Dança de Joinville), as danças urbanas vem ocupando as ruas e os espaços culturais, a cena da cultura Ballroom movimenta os espaços públicos e privados. Com uma programação de dança que aos poucos se fortalece, a falta de espaços físicos espalhados por toda cidade, acessíveis e adequados para utilização em ações de dança é uma dificuldade encontrada pelas/pelos produtoras/produtores. E, curiosamente vale ressaltar outro ponto: Joinville, assim como o estado de Santa Catarina também carece de produtoras/produtores que atendam as demandas da dança. 

De um modo geral, os divergentes olhares e trajetórias das/dos convidadas/convidados presentes nos quatro encontros sobre a dança em Joinville moveram muitas perguntas, principalmente, o que ficou latente a partir das falas escutadas é que a dança na cidade deve olhar e fomentar as pluralidades e promover práticas inclusivas que acolham todos os corpos.

Como dançar em Joinville? Talvez algumas possíveis respostas para essa pergunta encontre pistas nos movimentos atuais das/dos jovens criadores e na insistência de docentes e artistas da dança que há muitos anos lutam para sobreviver fazendo dança na cidade.

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