Como dançar em Lages?
Nos dias 2, 9, 16 e 23 de setembro de 2020, foram realizados os Encontros sobre Dança em Lages, eventos estes que contaram com a participação de profissionais e estudantes envolvidas(os) com dança na cidade.
Situada na Região Serrana do estado catarinense, a cidade de Lages se destaca pela sua produção de dança, conforme frisado nos quatros encontros realizados, que é composta dos trabalhos coreográficos desenvolvidos nas muitas escolas de dança, nas ruas, nos Centros Comunitários e nos diversos Centros de Tradições Gaúchas espalhados pelo município.
As(os) profissionais da dança da cidade têm uma destacada atuação na área da Educação, ministrando aulas de dança em escolas. Suas formações são advindas da experiência que adquiriram em sala de aula, muito embora boa parte delas(es) possua Ensino Superior em áreas como a Educação Física, principalmente. Ao longo dos Encontros, as(os) profissionais relataram a carência de formações continuadas e específicas em que pudessem discutir outros caminhos para pensar-fazer dança.
Na cidade, preocupado(a) não somente com a sua própria formação, o(a) professor(a) precisa fazer as vezes de produtor(a) de dança. A já conhecida figura do(a) educador(a) que cumpre diferentes funções e atende às diversas demandas que compreendem o fazer artístico é algo recorrente também em Lages. Como pensar em propostas cada vez mais colaborativas nas próprias escolas de dança? Como então provocar reflexões sobre a constituição de uma cadeia produtiva em dança? Como formar uma cadeia produtiva que congregue os vários segmentos de atuação na dança?
Motivadas(os) em pensar estratégias futuras para a dança, é visível o comprometimento com a própria cidade que as(os) profissionais constroem em seus discursos. Apesar de as(os) artistas serem movidas(os) pela vontade de promover a cena local com outras alternativas em produção de dança, Lages nos lembra de que é preciso nutrir esperanças e, ao mesmo, agir para que as mudanças aconteçam.
As mudanças, em Lages, precisam encontrar caminhos através de políticas públicas para dança que sejam de fato implantadas por gestões comprometidas com a democratização do acesso a projetos formativos, além de que estes projetos sejam executados de forma contínua e em espaços físicos apropriados. A criação de editais de fomento para alavancar novas produções também é requisito de primeira ordem para que a dança não seja somente vista como entretenimento, haja vista os constantes e numerosos eventos que já acontecem na cidade.
Em Lages, as danças se ramificam por diversas regiões, numa luta constante para poder ocupar os diversos equipamentos culturais existentes na cidade, visto que o alto custo da locação de teatros, por exemplo, é um óbice à consecução de uma apresentação de dança. Levando-se em consideração os espetáculos de final de ano realizados pelas escolas e as apresentações de coreografias curtas em eventos consolidados, pode-se dizer que público lageano é composto, em sua maioria, pelas(os) familiares das(os) alunas(os) das escolas de dança.
Como uma cidade absorve e promove de forma acessível suas produções em dança durante o ano todo? Como a única forma de o público fruir de espetáculos de dança em lugares diversos, as dependências das unidades do SESC/Lages acabam se tornando importantes referências de locais para realização de espetáculos, assim como a própria programação da entidade (ainda com pouco público), composta por outros modos de existência para/com a dança. Um público que não tem contato com outras propostas em dança além daquelas às quais já está acostumado não consegue desenvolver um olhar acolhedor à multiplicidade da dança. Além do público, como um(a) profissional de dança que atua na cidade poderia se alimentar de outros(as) artistas e propostas? A carência da cidade não se limita à falta de formação em dança no Ensino Superior; ela também diz respeito à formação a partir do olhar e da experiência com obras de dança das mais diversas estéticas.
As perguntas que surgem quando se pensa sobre a dança em Lages parecem, aos poucos, encontrar alguns caminhos, sobretudo a partir da atual mobilização coletiva observada na cidade, que ganhou novo fôlego com o advento da pandemia de Covid-19, situação também percebida por artistas de outras cidades com que o projeto Como dançar em Santa Catarina? (2020) conversou. Afinal, 2020 vem se mostrando um ano difícil para as(os) trabalhadoras(es) da cultura e, de forma drástica, reitera a já conhecida frase: nada se faz sozinha(o).
Como dançar em Lages? Mantendo-se firme e forte, movendo-se coletivamente em busca do que se deseja e impulsionando a multiplicidade das danças já instituídas e das danças que ainda virão.