Como dançar em Santa Catarina?

Nos dias 13 e 20 de junho de 2022, foram realizadas entrevistas online com Vera Torres, Jessé Cruz e Nathã Schug, pesquisadora e pesquisadores residentes e atuantes no estado catarinense, para conversar sobre a dança em Santa Catarina, a fim de promover um intercâmbio de memórias e aproximar experiências, levando em consideração diferentes contextos e reflexões sobre pesquisar-dançar.

Durante as três entrevistas, realizadas de maneira individual com cada um, foram conversados temas constantemente discutidos nos 36 encontros online que integraram o projeto “Como Dançar em Santa Catarina?”, em 2020 e 2022. Algumas constatações foram feitas, entre elas: a presença do balé clássico como formação almejada e praticada de forma incessante dentro dos numerosos espaços formativos de dança que já existem no estado; as danças urbanas ocupando de maneira significativa as ruas, as aulas de dança e os espaços culturais das cidades catarinenses; a criação fortemente voltada para a produção de coreografias que atendam os parâmetros das abundantes mostras/festivais competitivos ou não-competitivos de dança; a falta de grupos e coletivos profissionais que garantam o fortalecimento de uma circulação de propostas para além do que já está sendo produzido nas escolas de dança; a falta de registros e documentações sobre a dança em Santa Catarina (principalmente em cidades fora do eixo Joinville e Florianópolis); a carência de recursos financeiros que aportem ações de dança que aconteçam com regularidade em todo o Estado (como pesquisas, criações e circulação de espetáculos e projetos formativos continuados).

Como dançar em Santa Catarina? Como continuar pesquisando num Estado que pouco compreende a dança como área do conhecimento? Como as pesquisas em dança podem mover de forma crítica o que já se faz/o que já se conhece?

Para esta última pergunta, a própria trajetória da/dos entrevistada/entrevistados já foi capaz de apontar muitas direções. Como exemplo: Jesse Cruz, artivista, que move pesquisas decoloniais que abordam caminhos para se pensar a estética, a política e a poética dos corpos negros na dança, Vera Torres que há anos constrói e auxilia na manutenção de um acervo de documentos e memórias da dança feita em Santa Catarina, atentando na importancia de registrar as historias da dança; Nathã Schug, recém-egresso do Curso de Graduação em Dança da Universidade Regional de Blumenau, interessado em registrar a dança, principalmente da cidade de Jaraguá do Sul, ocupando espaços para além das pesquisas acadêmicas, movimentando uma nova geração de artistas-pesquisadores, e contribuindo em espaços de luta coletiva atuando como
vice-presidente do Conselho Municipal de Cultura de Jaraguá do Sul (gestão 2022-2024).

Como dançar em Santa Catarina? Percebendo que é preciso estar atenta/atento e lutando para que a falta de comprometimento na realização de políticas públicas específicas para a dança não continue desaguando na falta de continuidade de projetos, ações e pesquisas, ou na falta de manutenção de trabalhos dos tantos grupos e artistas que produzem no Estado.

As três entrevistas realizadas destacaram importantes trajetórias construídas em Santa Catarina e apontaram caminhos possíveis para que artistas e pesquisadoras/pesquisadores continuem insistindo nas suas próprias inquietações, sem esquecer do ato político que é pesquisar-dançar.

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