Como dançar em São Miguel do Oeste, Joaçaba e Xanxerê?

Nos dias 09 e 16 de maio de 2022 foram realizados encontros online para conversar sobre a produção de dança em São Miguel do Oeste, Joaçaba e Xanxerê. Os encontros contaram com a participação de profissionais envolvidas/envolvidos
em ações e projetos de dança desenvolvidos nas três cidades.
A partir do olhar de como a dança vem sobrevivendo e conseguindo, aos poucos garantir seu reconhecimento e maior profissionalização em São Miguel do Oeste, Joaçaba e Xanxerê, os temas debatidos durante as conversas foram educação, criação, produção e políticas públicas. Com isso, algumas perguntas foram apontadas: como acessar outros modos de pensar-criar danças? Como garantir recursos financeiros para que a dança não seja apenas vista como um entretenimento sem remuneração profissional? Como impulsionar cursos e projetos formativos dentro das próprias cidades, garantindo assim uma formação continuada das/dos profissionais que já atuam nas cidades?

Nas três cidades, a fala das/dos convidadas/convidados dos encontros Adriana Staudt, Micaela Herber, Diane Cristina, Felipe Tavares, Matheus Spiecker, Ane Simianco e Diego Gonçalves foi unânime: as escolas particulares de dança e alguns poucos projetos de dança realizados no contraturno das escolas regulares públicas conduzem e movimentam a cena, pensando-criando coreografias por meio da perspectiva das modalidades de dança – com predominância do balé clássico e das danças urbanas. Com uma dança feita principalmente por crianças e adolescentes, como então projetar um futuro em que a dança é também um caminho profissional? A dança como caminho profissional ocupa o lugar dos espaços formativos, ou seja, nesses locais, a lógica mantida é a de que para trabalhar com dança o caminho é ser uma/um professora/professor de dança e/ou tentar projetar sua própria escola de dança.

Além da criação em dança concentrada nas escolas – isso é, no fazer condicionado a coreografias com duração cronometradas apresentadas em festivais de dança e/ou eventos privados e públicos (eventos não somente culturais) que
acontecem durante o ano todo nas três cidades –, outras propostas se destacam como os eventos de danças tradicionais gauchescas, com presença marcante de dançarinas/dançarinos e público.

Em São Miguel do Oeste, Joaçaba e Xanxerê as/os profissionais da dança atuam de maneira muito semelhante ao restante do Estado de Santa Catarina, ou seja, organizadas/organizados principalmente nas suas próprias escolas e/ou grupos de dança, sem muitas trocas e intercâmbios artísticos. Isso levanta mais algumas questões: como pensar a dança de maneira colaborativa? Como criar e discutir ações em comum que fortaleçam o setor e que também fortaleçam uma cadeia produtiva em dança? Compreendeu-se que a dança nessas três cidades carece não só de investimentos financeiros, mas também de profissionais disponíveis a atuar nos diferentes segmentos e especificidades na dança, como produtoras/produtores e gestoras/gestores, por exemplo.

Quanto ao cenário das políticas públicas, é importante ressaltar alguns pontos, como os esforços que a cidade de Xanxerê vem fazendo ao longo dos últimos anos para que de fato a dança tenha recursos públicos disponíveis, e que tenha um Conselho Municipal de Política Cultural atento e propositivo, algo que ainda precisa ser mais desenvolvido nas cidades de São Miguel do Oeste e Joaçaba. Quando comentamos sobre políticas públicas, é impossível não citar a importância e os impactos dos Editais vinculados à Lei Aldir Blanc 2020 e 2021 como catalisadores de novos projetos em dança durante o período da pandemia da Covid 19. Lembrando que, os editais subsidiados pela Lei Aldir Blanc realizados em 2020 e 2021 em São Miguel do Oeste e Joaçaba foram as únicas oportunidades das/dos artistas destas cidades executarem projetos de dança com recursos públicos nos últimos anos. E, quando falamos em artistas elaborando e executando seus próprios projetos culturais, vale ressaltar que a autogestão ainda é uma realidade presente nas três cidades, visto a ausência de produtoras/produtores.

Com o impulso dos editais da Lei Aldir Blanc, a dança nesse período pandêmico de Covid-19 teve como urgência pensar em estratégias para adaptar suas produções e projetos pensando no universo virtual. Em 2022, com a retomada dos eventos presenciais, outra pergunta se faz pertinente: como estão os espaços físicos que recebem ações de dança nestas três cidades? A resposta comum entre participantes das conversas é que faltam espaços físicos com estruturas adequadas
e acessíveis para a construção/circulação de obras de dança. Na maioria das vezes, as apresentações e eventos de dança ocorrem em espaços improvisados como ginásios de esportes, espaços das Universidades e salões para eventos. Porém, é importante destacar a existência na cidade de Joaçaba do Teatro Alfredo Sigwalt como referência de local para fazer e fruir dança. Em sua maioria, dentro dos espaços físicos que recebem dança nas três cidades, o público é formado por familiares das/dos alunas/alunos das escolas de dança ou interessadas/interessados que já possuem algum tipo de vínculo com o evento apresentado, como no caso das danças tradicionais gauchescas.

De um modo geral, os dois encontros sobre a dança em São Miguel do Oeste, Joaçaba e Xanxerê apontaram de forma esperançosa um desenvolvimento da dança nessas cidades para os próximos anos e lembram que é preciso um constante engajamento político e coletivo para lutar por reconhecimento e valorização da dança.

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